sábado, 10 de janeiro de 2009
Lembranças de Isabel McCallister:
- Então quer dizer que Rebecca se separou de papai por causa do Grimoire? Porque estava com medo das maldições que nossa avó lançou sobre eles, o casamento e a gravidez, depois que mamãe se recusou a continuar com a tradição?
- É, aparentemente. Mamãe foi a primeira, depois de séculos repassando o livro de geração por geração, que se recusou a escrever não é? É claro que corria riscos de sofrer graves conseqüências por causa disso. Aliando-se o fato de estar grávida de um trouxa e quebrar a corrente “puro-sangue” da família.
- Isso quer dizer que... quero dizer... você acha que eles ainda se amam? – perguntei sentindo a garganta seca e Anabel também pareceu sentir o peso daquelas palavras.
- Acho que quando se ama de verdade, é eterno. Não precisa me olhar assim, não estou lendo muitos romances, mas não é isso que todos dizem? Acho que, bem provavelmente, eles ainda se amam sim. Na carta mamãe não diz que se separou de Richard por medo, mas o amando tão ou mais intensamente do que antes?! Então. Acho que esse sentimento foi coberto pelo tempo e está cheio de mágoas e histórias mal-resolvidas, mas sinceramente? Acredito que eles ainda se amem...
- Será que eles voltariam a ficar juntos?
- Como?
- Bem, agora que ela não tem que esconder mais nada pra proteger ninguém aqui... Eles talvez ainda tenham uma chance de serem felizes juntos, você não acha?
- Não sei... Você quer que façamos eles ficarem juntos de novo?
- Por enquanto eu só quero que tudo fique bem, mas se eles se amam e nada os impede de ficarem juntos... não seria tão má idéia...
ººº
- O amor é lindo! O céu é azul! Os passarinhos cantando... Já contei que estou apaixonada?
- Quem é o alvo dessa vez?
- Henrique: 23 anos, moreno, olhos verdes, educado, inteligente, simpático, extrovertido, um deus!!!
- Onde você encontrou esse ‘deus’, Isa?
- Lá em casa, sentado no meu sofá!!! É um estagiário do meu pai... Foi amor à primeira vista!
ººº
- “O Cometa: Um cometa rasga o espaço, o destino está marcado. A luz de uma boa estrela seguindo, forte, ao teu lado”. Nada mal. As estrelas sempre me trouxeram coisas boas... - Henrique comentou me encarando sério.
- O que você perguntou?
- Perguntei ao livro se você me daria um tapa caso eu te beije agora.
- O livro te respondeu que o nosso destino está marcado. Ele te respondeu tudo o que precisava? - Perguntei um pouco gelada e ele sorriu se aproximando e segurando meu rosto.
- Respondeu sim. Tudo o que eu precisava e um pouco mais. - Disse antes de me puxar para mais perto e me beijar lenta e intensamente.
ººº
- Cinco... Quatro... Três... Dois... Um... FELIZ ANO NOVO!
A Times Square se encheu de gritos, palmas, fogos de artifício e confetes coloridos, cada um com uma mensagem. A bola de cristal que no último minuto vinha deslizando gradualmente do topo do edifício Times Tower, cessou. Ao meu lado, centenas de pessoas comemoravam o novo ano com abraços, beijos, promessas e sorrisos estampados. Henrique me abraçou com força pela cintura sussurrando em meu ouvido:
- Quer namorar comigo, Isabel Damulakis McCallister?
- Você ainda me pergunta uma bobagem dessas? – respondi sorrindo e me virando para beijá-lo enquanto uma chuva de papel picado caía em nossas cabeças. Seria um ano bem melhor.
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Dezembro de 1999
- Ainda não entendo porque você e Anabel não querem ir para passarem o final de ano na Grécia comigo e com sua mãe. – papai comentou enquanto arrumava sua mala.
- Oras, não é óbvio? Agora que você e ela reataram esse “namoro”, depois de anos separados, merecem um tempo juntos e sozinhos não é mesmo? – ele me olhou sério, com certeza já preparando uma resposta do tipo “como se você e sua irmã fossem pedras no nosso caminho” mas o interrompi antes que pudesse dizer qualquer coisa. – Além do mais, eu tenho vários compromissos aqui: tenho que me preparar para o segundo período da faculdade... Agora que estou me readaptando a essa vida com “trouxas”, mas vou te dizer uma coisa: tenho que me controlar para não puxar a varinha e ordenar que os panos se cortem e costurem, sozinhos. – papai riu mas ainda assim me olhou de maneira insistente, como se aquilo não fosse desculpa suficiente. Não era mesmo. Então, continuei listando. - E tem Henrique, que não está de férias, não é mesmo? Não posso simplesmente ir para a Grécia e deixá-lo sozinho aqui no Réveillon, justamente quando vamos fazer um ano de namoro. A Bel também não tinha mais desculpas para evitar ir conhecer a família de Bernard. Agora que eles... estão mais juntos do que nunca. – completei a frase e papai riu, percebendo minha contenção. – Vai passar as festas com eles.
Papai balançou os ombros se dando por vencido e fechou o zíper da mala, me encarando com simplicidade.
- Estou muito feliz, sabia? Nunca achei que fosse me sentir tão feliz assim novamente. Sua mãe é maravilhosa e está me ajudando a lembrar porque nos apaixonamos e casamos tão depressa. Foi bem fácil...
- Você não precisava ter me dito isso, papai. Está estampado bem aqui, na sua testa. – eu disse rindo e dando uma palmadinha na testa dele, que também riu. – Agora vai, antes que você perca esse avião! Não sei por que não aceitou que mamãe viesse te buscar para aparatarem juntos.
- Simples: esses meios de transporte bruxos são um tanto...zoados, não acha? Ainda preciso me acostumar. Foguetes e ônibus espaciais me parecem tão lerdos perto daquela tal “chave de portal”. – ri lembrando papai contar com detalhes como se sentiu enjoado depois de pegar uma chave de portal de Paris para Nova York, voltando da nossa formatura. - Imagino então como não deve ser “aparatação”. Você estalar e desaparecer de um lugar, reaparecendo em outro (não importa a distância), segundos depois. – ele pareceu distante em pensamentos uns segundos e fez uma careta. Ri e ele balançou a cabeça, voltando ao normal. – Bom, então vou indo mesmo. Se mudar de idéia, sabe onde estamos... – me deu um abraço forte e um beijo estalado na bochecha. – Se precisar de qualquer coisa, entre em contato, ok?
- Não se preocupe. Já sou maior de idade nos dois “mundos” e sei me virar. Aproveite os dias de folga para descansar e matar mais um pouco do tempo perdido com mamãe. Mande beijos pra ela.
Ele me soltou sorrindo e concordando com a cabeça, indo até a porta. Antes de sair, se virou novamente para me olhar, sorrindo maroto.
- Juízo hein? Diga ao Henrique que estou de olho nele...
- Devo dizer a mesma coisa para você e mamãe? – respondi e rimos. – Vai, pai!
- Te amo, filha.
- Eu também te amo. – Com um último sorriso, ele saiu.
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- Então... O que vamos fazer no Ano Novo? Times Square? – perguntei me sentando ao lado de Henrique no sofá, apoiando minha cabeça em seu ombro e dobrando as pernas para apoiar uma bacia cheia de pipocas no vão entre elas.
- Não. Esse não vai ser um Réveillon comum. Vamos fazer nosso primeiro aniversário de namoro e... dizem por aí, que o ano vai acabar. – ele disse com um tom misturando o sombrio/misterioso e o irônico.
- Quem disse? – perguntei rindo e enfiando uma mão cheia de pipocas na boca.
- Os “trouxas” (no real sentido da palavra) lá da NASA que leram previsões da astronomia charlatã. Eles estão realmente estendendo essa bandeira, sabia? Afirmam por A + B que assim que se der a virada de ano para o segundo milênio... BUM. A terra vai acabar. Eu, bom pesquisador da real astronomia, e namorado de uma bruxa excepcional nessa matéria, não acreditei em nada disso, óbvio. Mas por via das dúvidas, se o mundo for mesmo acabar, vamos estar juntos comemorando nosso aniversário de uma maneira mais...íntima. E não pulando na Times Square. Estou te preparando uma surpresa.
- Ah não, odeio quando você faz isso! – disse brava engolindo muito depressa o resto de pipocas na boca e engasgando. Ele deu palmadinhas nas minhas costas, rindo. Quando melhorei, o encarei censurando. – Você é cheio disso de começar um assunto e parar, só pra me deixar morrendo de curiosidade. Porque tinha que dizer que “está me preparando uma surpresa” se eu sei que não adianta quanto esforço eu aplique em argumentos: você não vai contar nada.
- E você já sabendo antecipadamente que não vou contar nada, ainda assim fica brava? Esquece que disse isso e espere até o Ano Novo. Não gaste energias tentando me convencer. Simples.
Fechei a cara e enfiei uma nova mão cheia de pipocas na boca. Ele riu.
- Você fica irresistível quando finge estar brava, sabia? – ele me puxou para mais perto, dando um beijo em meu pescoço. Tentei me afastar ainda fingindo seriedade, mas amoleci rapidamente, sorrindo.
- É o meu melhor truque de sedução. – disse pousando a bacia na mesa e o puxando para um beijo longo. Logo o empurrava para o sofá, fazendo-o deitar e deitando em cima dele. Quando nos afastamos por uns segundos, ele sorriu passando a mão em meus cabelos. Insisti. – Não dá nem pra adiantar para onde vamos?
- Não, Isa! Pare de ser tão curiosa. Já disse: é uma surpresa. E, além do mais... – ele segurou os meus braços, nos girando e invertendo de posição. Seu rosto estava acima do meu alguns centímetros agora, e ele prendia meu quadril com seus joelhos – não vamos a nenhum lugar tão distante. – Abaixou-se e terminou de falar bem perto do meu ouvido: - Estou gostando deste sofá. – sorri o beijando ao mesmo tempo em que tirava sua camiseta.
[To be continued...]