sábado, 7 de março de 2009


Minha vida mudara radicalmente após a formatura em Beauxbatons. A mudança mais radical foi ter saído da Grécia. Saído da casa e da asa da minha mãe, que sempre fora tão confortável e segura. Vários foram os motivos para que tomasse essa decisão. Entre eles: a necessidade de aprender a me virar um pouco mais sozinha (principalmente nas responsabilidades e tarefas domésticas), estar mais perto de Bernard (agora que nosso namoro estava mais sério do que jamais esteve), mais perto da Academia de Aurores e, claro, a tranqüilidade de saber que para mamãe isso também estava sendo melhor, agora que ela e Richard estavam se dando uma nova chance e tentando recuperar o tempo que perderam separados, criando eu e Isabel (que também apoiava a campanha de deixá-los um pouco mais a sós e livres de responsabilidades conosco, quaisquer que fossem, agora que já éramos maiores de idade, livres e donas dos nossos narizes). Enfim, eu tinha amadurecido muito mais do que já me considerava na época de estudante...
Minha firmeza toda só falhou em um único momento, desde então: a perspectiva de ser apresentada à família de Bernard durante as férias de Natal (ser “aprovada” por eles como uma namorada ideal me parecia de repente crucial, e era. Eu não podia estar mais certa do que sentia por Bernard, e se não conseguisse convencer sua família disso, se eles implicassem comigo ou com nosso relacionamento, eu não saberia o que fazer!). Quase apelei para um suporte da minha mãe quando o grande e temível dia se aproximava, desistindo da idéia imediatamente. Medo de ser detestada pela família dele era como um monstro no armário: não existia e era completamente absurdo que eu estivesse o fantasiando com tantos dentes, cabeças e garras. Psicológico. Surreal. Sinistramente vivo em mim, sem motivo algum para existir.


- Quer parar de bater os pés, Anabel? Não consigo me concentrar nesse artigo, e se não entregá-lo amanhã na redação... – Brenda passou seu próprio dedo indicador por toda a extensão do pescoço, fazendo uma careta significativa depois. Levantei-me do sofá, inquieta. Anne riu.
- Parece uma adolescente. Você e Bernard já namoram há bastante tempo, Bel. Relaxa! Os pais dele vão gostar de você...
- Como você pode ter tanta certeza? – perguntei aflita e sem esconder um tom de desespero na voz. Anne trocou um olhar divertido com Brenda (que parecia ter desistido de se concentrar no pergaminho à sua frente enquanto eu estivesse ali) antes de responder.
- Que motivos eles teriam para não gostar? Bernard está feliz com você, isso é perceptível. Você está se preocupando à toa.

Sentindo a garganta seca demais para responder, caminhei até a sacada olhando a rua embaixo. O dia acabava de nascer, e uma camada fina de neve cobria todas as superfícies sólidas lá fora. Consultei o relógio novamente. Bernard estava atrasado.
Tentando me acalmar, sentei-me novamente no sofá e comecei a brincar com meus dedos das mãos, unindo suas pontas e montando escadinhas, continuamente. Anne estava certa: eu estava parecendo uma adolescente. Aliás, uma criança. Namorava Bernard há quase três anos, estávamos felizes juntos e nunca dera razão alguma para a família dele não ir com a minha cara. Afinal, nem nos conhecíamos “oficialmente”.

- Como você conseguiu adiar tanto tempo? Samuel me levou para conhecer a família quando ainda nem namorávamos “sério”. – ela perguntou despreocupada me avaliando.
- Não sei. Circunstâncias. De qualquer maneira, não é como se não nos conhecêssemos... Na festa de formatura dele, conheci os pais, mas bem superficialmente óbvio. Os irmãos, Amelie e Vincent, conheço de vista, de Beauxbatons, mas nunca conversei com nenhum deles além do convencional cumprimento. Aliás, isso com Amelie. Vincent é um endiabrado! Bernard não tinha muita paciência com ele quando ainda estava em Beauxbatons, o que contribuiu para que o conhecesse ainda menos depois. Mas ele é um dos grandes responsáveis pela maçante perda de pontos da Sapientai durante os anos letivos... - sorri amargurada e Anne fez o mesmo. Talvez para me estimular. – E por último, o avô, Edmond. Conhecemos ele na nossa festa de formatura, se lembra? Mas...
- Me deixa adivinhar? Também não pôde conhecê-lo melhor? – Brenda perguntou às minhas costas, divertindo-se. Olhei-a irritada e ela balançou os ombros. – Qual é, Bel? Você está muito melhor do que eu, que nem sabia quantos irmãos Chris tinha antes de ir a casa dele a primeira vez! Você fez tantas perguntas a Bernard sobre eles todos nesses últimos dias que é bem possível que saiba até a cor preferida, de cada um. – Anne riu ao meu lado.
- Podem achar engraçado, não me importo. Não escondo que estou nervosa. Tenho direito de estar assim? – perguntei azeda olhando as duas. – Vocês sabem como eu sou: reservada, tímida, quieta... Não é à toa que toda minha família fez questão de jogar na cara dele o espanto que sentiram quando o apresentei como meu namorado. As apostas eram que morreria solteira e cercada de livros e gatos.
- Acontece que Bernard também é assim! Mesmo que não tenha agradado toda sua família, pelo menos ele já enfrentou tudo isso. Ele já não é um estranho para eles, mesmo que tenha gerado comentários de diversas opiniões. Quem se importa? Quem se importa se eles vão gostar de você ou não? Você vai ficar com Bernard, não com a família dele... De qualquer maneira, eles vão gostar de você. Sou capaz de apostar quanto quiser. – Anne concluiu confiante e me senti um pouco mais leve.
- É claro que vão gostar! Você tem cada uma, Anabel... – Brenda disse um pouco sem paciência, voltando-se para o artigo em seguida. Elas tinham razão. Eu era uma boba.

Eu já me sentia mais tranqüila quando a campainha tocou. Pulei do sofá de um salto e corri até a porta. Parado ali, Bernard sorria para mim, tranquilamente.

- Você está atrasado. – eu disse acusando-o. Meu estômago iniciando uma nova série de acrobacias.
- Oi. – ele respondeu educadamente, me puxando pela cintura para um abraço e um beijo breve. Depois, ainda me segurando ao seu lado, cumprimentou Anne e Brenda, que sorriram empolgadas para ele. Se virou para mim, novamente. – Desculpe, fiquei preso na rede de flú com minha mãe. Ela está um tanto curiosa para saber como você é. Disse que minha mensagem de “minha namorada vai passar o Natal conosco” pareceu um tanto superficial, já que eles nem sabiam que eu estava namorando alguém. – ele sacudiu os ombros rindo e senti um gosto amargo na boca.
- O que você respondeu?
- Que era para ela deixar a curiosidade para ser respondida daqui a pouco, ao vivo. Ela está um tanto agitada e estranha. Não perguntou seu nome, mas se você tinha cabelo curto ou longo. Enfim... Estão nos esperando. Você está pronta?
- Quer a resposta sincera ou a corajosa? – perguntei fazendo-o rir e segurar minha mão com força, entrelaçando os nossos dedos.
- Você é inacreditável, Anabel. Não tem medo de nenhum dos treinamentos da Academia de Aurores, mas está toda gelada por ir conhecer minha família. Meros mortais, pacatos e inocentes. Te garanto que são bem mais “calmos” do que sua família, não se preocupe. Vão querer te adotar!

Seu tom de voz era firme e eu me vi sem saída. Nos despedimos das meninas e saímos para a rua gelada e deserta do prédio onde morava com elas, em Paris. Bernard despachou minha mala antes, com um aceno de varinha. Ainda segurando firme minha mão, me deu um beijo na testa sussurrando “relaxa” antes de aparatarmos. A estranha sensação de estar sendo espremida para dentro de uma garrafa, que geralmente as aparatações produziam em mim, foi bastante leve perto do desconforto que senti quando me vi parada em uma rua quase tão deserta e gelada de Marselha. A casa da família Lestel fazendo sombra a alguns metros na minha frente.

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Nem precisamos bater na porta, pois ela já estava destrancada. Senti minha mão suar gelado, grudada na mão de Bernard quando entramos na sala de visitas, vazia.

- Mãe? Pai? Chegamos... – Bernard gritou e sua voz ecoou pela casa toda.

Um segundo depois, o pai de Bernard apareceu nos avaliando e abrindo um largo sorriso a nos ver, se aproximando mais para cumprimentar. Bê era uma cópia fiel dele, pude constatar quando ele estava só a alguns centímetros. Os mesmos olhos azuis, nariz, boca, cor do cabelo e até altura e maneira como se movimentava, andando suave e despreocupadamente.

- Pai, essa é Anabel, minha namorada. Bel, esse é meu pai, também Bernard. – Bê nos apresentou, cordial, e seu pai estendeu a mão para mim, estranhamente empolgado. Um pouco sem jeito, apertei em resposta forçando um sorriso.
- É um prazer te conhecer, Anabel. Seja bem-vinda. – ele disse animado e balancei a cabeça em resposta, agradecendo e sentindo as bochechas queimarem. – Vou chamar Cecília para vir vê-los. Ela estava tão ansiosa...

Mas não deu tempo para que ele se afastasse, pois a mãe do Bê apareceu imediatamente e parou me encarando um instante com um sorriso no rosto demonstrando conformidade e mudando sua expressão drasticamente, um segundo depois. Seus olhos ficaram de repente vermelhos e inchados, e ela abriu um enorme sorriso, espontâneo e sincero, deixando várias lágrimas escorrerem por seu rosto.
Senti minhas pernas tremerem, pois sem nenhuma introdução ou preparo, ela correu até nós e me puxou para um abraço apertado fazendo Bernard soltar minha mão, igualmente espantado com aquela reação. Meus músculos estavam rígidos e os braços duros colados ao lado do corpo, enquanto Cecília ainda me mantinha presa no abraço e fazia várias lágrimas escorrerem por meus ombros. Quando Bê pareceu ter se recuperado um pouco do choque, interveio, puxando a mãe e fazendo-a se afastar de mim.

- Mãe... você está assustando a Bel. Quer dizer, todos nós. – Bernard falou enquanto me puxava novamente para seu lado, me abraçando pela cintura com firmeza e sorrindo para a mãe, que secava o rosto e me encarava emocionada e feliz. – Aconteceu alguma coisa?
- Desculpem, eu... não estava esperando... – ela confessou um pouco envergonhada e Bernard reagiu ao meu lado.
- Como não estava esperando? Avisei que viríamos há várias semanas e você ficou me prendendo na lareira até agora pouco! – ele disse exaltado e ela balançou a cabeça negativamente. Eu não queria deixar que esse pensamento tomasse uma forma intacta na cabeça, mas não conseguia deixar de notar que ela parecia um pouco... fora de órbita (para não dizer “maluca”). – Mãe... – Bernard recomeçou um pouco nervoso, mas ela o cortou.
- Não quis dizer que não estava os esperando. Eu sei que você me avisou, sei que já estavam vindo. – ela disse com clareza e Bernard relaxou, mas levantou a sobrancelha logo depois, em dúvida. – É só que... não estava esperando ela... hmm... uma menina. Tão bonita e... – não completou a frase, deixando-a morrer no ar e fazendo o ambiente cair em silêncio total.

Tudo o que ela ia dizendo não fazia o menor sentido para mim e aparentemente tampouco para Bernard. A suposição mais sensata que me agreguei para dar razão a essas últimas palavras foi que ela não esperava que Bernard namorasse uma garota tão bonita e me senti intimamente grata por esse elogio e pelo canto do olho vi a expressão do Bê, rindo internamente do constrangimento que deveria estar sentindo por ter chegado a essa mesma conclusão com as insinuações da mãe. “Mas tudo bem. Pelo menos não haviam esperado que ele morresse sozinho em uma biblioteca, contaminado pelo ácaro dos livros velhos e cercado de gatos”, eu pensei comigo mesma. Bernard, o pai, pigarreou.

- Cecília não está se expressando bem. Está um tanto exaltada, Anabel, desculpe por isso. – ele disse apoiando um dos braços nos ombros da mulher, que concordou depressa. Sacudi os ombros em resposta, forçando um sorriso.
- Ok. Vamos começar de novo. – Bê se recuperou também, firmando a voz. – Mãe, essa é Anabel, minha namorada. Bel, essa é minha mãe, Cecília.

Estendi a mão esperançosa para ela, que apertou a minha em resposta, ainda sorrindo largo. Terminada as apresentações, ficamos os quatro parados ali, nos encarando.

- Anabel... namorada... – Cecília disse baixinho para si mesma ameaçando recomeçar a chorar e se virou para Bê. – Ah, Bernard! Porque não nos disse nada antes?

Agora era fato: Cecília Lestel era maluca. Ou eu era. Mas ela não estava fazendo sentindo algum para mim. Olhei dela para Bernard e de novo para ela, sem entender mais nada e sem fazer esforço para entender também. Quando Bernard respondeu, parecia confuso.

- Mãe... sério: o que aconteceu com você? Pai... – olhou para o pai pedindo algum tipo de ajuda, mas Bernard o encarou cansado e disse:
- Cecília... você prometeu que iria se controlar.
- Desculpem! Desculpem! Todos vocês! – ela disse depressa nos olhando exasperada. – Desculpe, Bê. Não tinha preparado a reação para uma “quebra de expectativas”. Passei tempo demais ensaiando aquele sorriso conformado de mãe moderninha que aceitaria tudo pela felicidade do filho, já vi tantas vezes isso acontecer em filmes... Mas quando entrei aqui e vi você de mãos dadas com ela, Anabel, uma mulher... Não consegui segurar. Você só me surpreende.
- Não estou entendendo nada. – Bê disse se dando por vencido depois de alguns segundos e Cecília se virou para o marido, o olhar suplicante. Ele suspirou antes de assumir, firme:
- Ela pensou que você era gay, Bernard. Isso. Por isso estava esperando que você trouxesse um garoto até aqui e... Bom, vocês conhecem o resto da história.

Não sei como consegui controlar a risada que queria, por tudo, se soltar para a sala (que além de silenciosa, adquiriu uma tensão surreal). Bernard apertava tanto minha mão que agora a sentia gelada não de nervosismo mas por falta de circulação sanguínea. Encarava os pais com uma mescla de espanto e decepção. Abaixei os olhos para meus sapatos, decidida a esperar quieta pelos próximos movimentos de qualquer um dos três. Porém, a quebra de silêncio e tensão aconteceu com uma gargalhada sobrenatural de outra pessoa: Ian.
Sem que qualquer um de nós tivéssemos notado, ele havia entrado na casa e parado na porta onde, agora, lutava para não se esquecer de respirar em meio ao surto de risadas. Seu rosto já estava molhado de lágrimas e eu soube que ele tinha escutado a declaração final. Não conseguindo mais lutar, também comecei a rir de tudo: de Ian, da suposição absurda de Cecília e até da dormência nos meus dedos por causa da tensão que Bernard transpassava por seu aperto.

- Oi. Desculpem. – Ian disse ofegante olhando para todos nós, tentando se controlar mas ainda rindo abertamente. – Não pude deixar de escutar e... bem, vocês me conhecem. Não consegui segurar.
- Ian, você nos assustou! – Cecília disse em tom de censura, mas ele não pareceu se constranger, avançando vários passos até onde estávamos.
- Desculpe, tia, não foi minha intenção. Não teria agido assim se não tivesse escutado sobre sua suposição... Bernard... gay! – ele recomeçou a rir e Cecília fez uma careta para ele, reprimindo-o quase imediatamente. Bê encarava a mãe sem mudar em nada a expressão e parecendo nem ter notado Ian ali. Ela o olhou murcha de arrependimento.
- Não pense mal de sua mãe, Bernard. Ela não fez por mal. É só que, em todos esses anos, as únicas garotas com quem vimos você conversar foram Marie e Clarisse. Depois que Clarisse foi morar em Madrid e você nos disse que Ian gostava da Marie, então... não temos culpa. Você nunca dizia nada, nem nos apresentava ninguém! Ainda mais depois de se formar e sair de casa. Sua mãe pensou que você era gay e eu pensei que se tornaria padre! – Bernard disse em tom de defesa. Sem mais agüentar a dor da minha mão, puxei-a com força fazendo Bê soltá-la e me olhar como quem se desculpa (não pela mão) antes de responder.
- Vocês são inacreditáveis! Inacreditáveis! – Ian recomeçou a rir e Bernard também, por tabela. – Da próxima vez, podem me deixar um pouco mais constrangido. Ainda não foi o suficiente... – Cecília relaxou sorrindo também e abraçando ele, dando-lhe um beijo estalado no rosto. Bê olhou para mim, que ria ao lado de Ian por toda a confusão. - Não disse que iam querer te adotar? – perguntou sarcástico. Cecília se exaltou.
- Esclarecida a confusão, você não se importa se for até a cozinha terminar o almoço certo, Bel? – ela perguntou alegre e ao me chamar pelo apelido me fez sobressaltar um segundo antes de responder aliviada.
- Não, é claro que não. Precisa de ajuda? – ofereci, embora não soubesse fazer nada na cozinha. Ela sorriu com delicadeza.
- Não seja boba, é claro que não. Vá conhecer o restante da casa e do quarteirão com Bê e Ian. Depois do almoço, vou te mostrar algumas fotos da família... – ela piscou marota antes de ir para cozinha, acompanhada pelo marido. Bernard gemeu ao meu lado.
- Fotos não... – disse desesperado. Pensei que Ian fosse rir, mas ele acompanhou Bê na careta. – São muito comprometedoras. – Bernard disse e Ian concordou com a cabeça.
- Minha mãe também tem algumas dessas de nós dois, na infância... – ele comentou desanimado e ri.
- Mal vejo a hora de ver isso. – comentei maliciosa e os dois me encararam azedos. Balancei os ombros. – Não reclamem. Eu e Marie salvamos vocês da vida “virada” que prometiam, desde a infância.
- Eu mato minha mãe. – Bernard comentou azedo antes de puxar minha mão novamente para me mostrar o restante da casa. Ian nos nossos calcanhares.
- Quais as chances de encontrarmos esses álbuns de fotos antes de ela espalhar, Bê? – ele perguntou sem esperanças.
- Nulas. – Bê confirmou e ri.
- Vão comer na palma da minha mão.

Ian resmungou mais alguns desaforos e ameaças desistindo logo depois. Eu sempre teria alguns trunfos na manga e eles sabiam disso...

N.A.: Texto que recebeu uma grande e indispensável ajuda da Ju. Thanks! =D

domingo, 11 de janeiro de 2009


Ainda faltavam algumas horas para a virada do ano (e milênio) quando Henrique chegou para me buscar. Parecia empolgado, o que me deixou ainda mais ansiosa.

- Parabéns para nós, meu amor. – ele disse sorridente assim que abri a porta para deixá-lo entrar. Me abraçou forte e levantou alguns centímetros do chão. – Seu presente, entrego daqui a pouco... Vamos?!
- Vamos! Mas não antes que eu entregue o seu. – sorri animada correndo até a mesa onde havia uma grande caixa. Mesmo antes de abri-la, ele pareceu desconfiado. Desfez o nó do laço e puxou a tampa, soltando um assobio de surpresa e um largo sorriso em seguida.
- Uma jaqueta de couro! Linda! – disse enquanto abria a jaqueta no ar, virando-a de todos os lados.
- Não é só uma jaqueta de couro! – apressei-me a indicar para ele a marca “IM” bordada do lado esquerdo, perto de outros buttons. – É a primeira peça de roupa que eu mesma desenhei, especialmente pra você! Feita com couro de Chifres-Longo Romeno, uma espécie de dragão muito perigosa. Ah, tem vários bolsos internos também. Essa jaqueta me custou o primeiro “dez” do meu curriculum, sabia? A professora de “Design de Moda I” ainda está insistindo para que eu conte onde consegui esse couro verde escuro. Dei trabalho para Morgan, aquela minha amiga que trata de dragões, sabe? – mas ele me encarava com um brilho no olhar e parecia não estar escutando uma palavra do que dizia. Ri. – Estou falando demais, não é? Gostou do presente? Acha que levo jeito...?
- Eu adorei o presente. É a jaqueta de couro mais linda que já vi! Bate em todas essas nas vitrines... – ele me deu um beijo e vestiu a jaqueta, esticando os braços e dando uma voltinha para que eu avaliasse. – Como fiquei?
- Lindo. Agora vamos! Estou curiosa pra saber qual é a surpresa! – ele parou de admirar a jaqueta por alguns segundos, consultando o relógio.
- É verdade, precisamos nos apressar. Mas antes de irmos, você poderia pegar seu telescópio?
- Meu telescópio? Porque você quer levar meu telescópio?
- Porque estou levando o meu, mas acho que o seu é melhor... Não, não adianta me perguntar o que vamos fazer! – ele se adiantou quando viu minha boca se abrindo para perguntar. Tornei a fechá-la dando-me por vencida.
- Ok, ok, vou pegar.

Alguns minutos depois, saímos de casa. Cruzamos Manhattan e quando entramos no condado de Queens, me virei surpresa para ele, que continuou olhando para frente e dirigindo, decidido a não me adiantar nenhum detalhe. Depois do que me pareceu meia hora, ele encostou o carro em um posto de gasolina e me olhou com jeito de quem estava tramando alguma coisa.

- Estamos quase lá, é no próximo quarteirão! Então... – puxou uma venda preta - Vou amarrar isso em você, ok? Prometo que só por 10 minutos, no máximo isso!

Cansada de protestar, concordei com a cabeça e deixei que ele amarrasse o pano nos meus olhos. Logo o carro recomeçou a andar e parou novamente. Henrique saiu e abriu a porta, me ajudando. Subimos um lance de escadas, depois entramos em um elevador e quando saímos, ele pediu que esperasse parada. Ouvi um barulho que pareceu ser o de uma fechadura sendo aberta e um segundo depois me senti sendo levantada do chão. Henrique me pegou no colo e deu mais alguns passos. A porta atrás de nós se fechou.

- Pronto. Pode tirar a venda.

Ele me colocou novamente no chão quando tornei a abrir os olhos. Definitivamente, estávamos no topo de um prédio muito alto, pois por toda sua extensão (coberta por janelas de vidro) dava para ver boa parte da cidade. O local, no entanto, não possuía nenhum móvel.

- Onde estamos? – perguntei depois de uns minutos andando pelo lugar.
- Estamos no meu mais novo apartamento. – Henrique disse com simplicidade e me virei para encará-lo, assustada. – Comprei há alguns dias. Subindo aquelas escadas, vamos parar no terraço do prédio. É lá onde está sua surpresa.

Eu estava chocada demais para dizer alguma coisa. Henrique puxou minha mão e subimos as escadas em espiral que levavam ao terraço. A noite estava bastante fria, mas não nevava. Lá de cima, as luzes da cidade piscavam como se fossem estrelas. A uma curta distância, vi o telescópio dele montado, apontando para o céu. Também haviam dois colchões no chão cobertos por várias mantas e almofadas e uma máquina de fondue.

- Você só pode estar brincando. – foi a única coisa que eu consegui falar e ele riu. Se soltou da minha mão se adiantando para montar meu telescópio também, ao lado do dele. Depois de alguns minutos, pediu para que me aproximasse.
- Agora, vou te dar seu presente. Olhe no seu telescópio. Já consigo vê-la daqui... – ele falou empolgado e olhei pela lente. Apontava diretamente para a constelação de Velpucula. Antes que pudesse perguntar o que exatamente estávamos procurando, ele continuou – Está vendo aquela estrela maior, no centro das outras cinco pequenas? Mais ao canto esquerdo...? – localizei-a com facilidade. Era a que mais brilhava na lente.
- Sim. O que tem ela?
- O nome dela é Isabel McCallister.

Me afastei tão rapidamente do telescópio que ele acabou girando pro outro lado do céu. Encarei Henrique incrédula e ele sustentou meu olhar, sorrindo.

- O que você disse?
- Isso mesmo que você ouviu. Registrei essa estrela com o seu nome. Tenho certificado e tudo o mais. É só uma dentre bilhões mas... é sua.
- Você só pode estar brincando. – repeti e ele riu me abraçando.
- Não. Nunca falei tão sério na minha vida. Nunca senti por outra pessoa o que sinto por você. Chega a ser estranho a rapidez que isso aconteceu... Parece que nosso destino estava mesmo marcado. Se lembra?
- Claro que me lembro. A mensagem do “Livro da Sorte”.
- É. Muita sorte mesmo, não acha? Termos nos encontrado... Já temos um ano de namoro, daqui mais alguns podemos nos casar!
- Falou certo. Daqui mais alguns, sim. Por enquanto quero me focar na faculdade... E além do mais, quando formos nos casar, quero uma festa impecável!
- Quando você quiser. Já temos onde morar. Gostou daqui? – me abraçou pela cintura e ficamos observando as ruas de Queens vários metros abaixo.
- Adorei. Acho que até dá pra ver alguns fogos da Times Square.
- É, talvez. Mas ainda temos umas horas até lá... Melhor esperarmos sentados.

Ele sugeriu e nos sentamos nos colchões, nos cobrindo com mantas. O resto da noite foi gasto comendo fondue e fazendo planos. Não demorou até que mais um ano virasse, prometendo ser ainda melhor.

sábado, 10 de janeiro de 2009


Lembranças de Isabel McCallister:

- Então quer dizer que Rebecca se separou de papai por causa do Grimoire? Porque estava com medo das maldições que nossa avó lançou sobre eles, o casamento e a gravidez, depois que mamãe se recusou a continuar com a tradição?
- É, aparentemente. Mamãe foi a primeira, depois de séculos repassando o livro de geração por geração, que se recusou a escrever não é? É claro que corria riscos de sofrer graves conseqüências por causa disso. Aliando-se o fato de estar grávida de um trouxa e quebrar a corrente “puro-sangue” da família.
- Isso quer dizer que... quero dizer... você acha que eles ainda se amam? – perguntei sentindo a garganta seca e Anabel também pareceu sentir o peso daquelas palavras.
- Acho que quando se ama de verdade, é eterno. Não precisa me olhar assim, não estou lendo muitos romances, mas não é isso que todos dizem? Acho que, bem provavelmente, eles ainda se amam sim. Na carta mamãe não diz que se separou de Richard por medo, mas o amando tão ou mais intensamente do que antes?! Então. Acho que esse sentimento foi coberto pelo tempo e está cheio de mágoas e histórias mal-resolvidas, mas sinceramente? Acredito que eles ainda se amem...
- Será que eles voltariam a ficar juntos?
- Como?
- Bem, agora que ela não tem que esconder mais nada pra proteger ninguém aqui... Eles talvez ainda tenham uma chance de serem felizes juntos, você não acha?
- Não sei... Você quer que façamos eles ficarem juntos de novo?
- Por enquanto eu só quero que tudo fique bem, mas se eles se amam e nada os impede de ficarem juntos... não seria tão má idéia...

ººº

- O amor é lindo! O céu é azul! Os passarinhos cantando... Já contei que estou apaixonada?
- Quem é o alvo dessa vez?
- Henrique: 23 anos, moreno, olhos verdes, educado, inteligente, simpático, extrovertido, um deus!!!
- Onde você encontrou esse ‘deus’, Isa?
- Lá em casa, sentado no meu sofá!!! É um estagiário do meu pai... Foi amor à primeira vista!

ººº

- “O Cometa: Um cometa rasga o espaço, o destino está marcado. A luz de uma boa estrela seguindo, forte, ao teu lado”. Nada mal. As estrelas sempre me trouxeram coisas boas... - Henrique comentou me encarando sério.
- O que você perguntou?
- Perguntei ao livro se você me daria um tapa caso eu te beije agora.
- O livro te respondeu que o nosso destino está marcado. Ele te respondeu tudo o que precisava? - Perguntei um pouco gelada e ele sorriu se aproximando e segurando meu rosto.
- Respondeu sim. Tudo o que eu precisava e um pouco mais. - Disse antes de me puxar para mais perto e me beijar lenta e intensamente.

ººº

- Cinco... Quatro... Três... Dois... Um... FELIZ ANO NOVO!

A Times Square se encheu de gritos, palmas, fogos de artifício e confetes coloridos, cada um com uma mensagem. A bola de cristal que no último minuto vinha deslizando gradualmente do topo do edifício Times Tower, cessou. Ao meu lado, centenas de pessoas comemoravam o novo ano com abraços, beijos, promessas e sorrisos estampados. Henrique me abraçou com força pela cintura sussurrando em meu ouvido:

- Quer namorar comigo, Isabel Damulakis McCallister?
- Você ainda me pergunta uma bobagem dessas? – respondi sorrindo e me virando para beijá-lo enquanto uma chuva de papel picado caía em nossas cabeças. Seria um ano bem melhor.

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Dezembro de 1999

- Ainda não entendo porque você e Anabel não querem ir para passarem o final de ano na Grécia comigo e com sua mãe. – papai comentou enquanto arrumava sua mala.
- Oras, não é óbvio? Agora que você e ela reataram esse “namoro”, depois de anos separados, merecem um tempo juntos e sozinhos não é mesmo? – ele me olhou sério, com certeza já preparando uma resposta do tipo “como se você e sua irmã fossem pedras no nosso caminho” mas o interrompi antes que pudesse dizer qualquer coisa. – Além do mais, eu tenho vários compromissos aqui: tenho que me preparar para o segundo período da faculdade... Agora que estou me readaptando a essa vida com “trouxas”, mas vou te dizer uma coisa: tenho que me controlar para não puxar a varinha e ordenar que os panos se cortem e costurem, sozinhos. – papai riu mas ainda assim me olhou de maneira insistente, como se aquilo não fosse desculpa suficiente. Não era mesmo. Então, continuei listando. - E tem Henrique, que não está de férias, não é mesmo? Não posso simplesmente ir para a Grécia e deixá-lo sozinho aqui no Réveillon, justamente quando vamos fazer um ano de namoro. A Bel também não tinha mais desculpas para evitar ir conhecer a família de Bernard. Agora que eles... estão mais juntos do que nunca. – completei a frase e papai riu, percebendo minha contenção. – Vai passar as festas com eles.

Papai balançou os ombros se dando por vencido e fechou o zíper da mala, me encarando com simplicidade.

- Estou muito feliz, sabia? Nunca achei que fosse me sentir tão feliz assim novamente. Sua mãe é maravilhosa e está me ajudando a lembrar porque nos apaixonamos e casamos tão depressa. Foi bem fácil...
- Você não precisava ter me dito isso, papai. Está estampado bem aqui, na sua testa. – eu disse rindo e dando uma palmadinha na testa dele, que também riu. – Agora vai, antes que você perca esse avião! Não sei por que não aceitou que mamãe viesse te buscar para aparatarem juntos.
- Simples: esses meios de transporte bruxos são um tanto...zoados, não acha? Ainda preciso me acostumar. Foguetes e ônibus espaciais me parecem tão lerdos perto daquela tal “chave de portal”. – ri lembrando papai contar com detalhes como se sentiu enjoado depois de pegar uma chave de portal de Paris para Nova York, voltando da nossa formatura. - Imagino então como não deve ser “aparatação”. Você estalar e desaparecer de um lugar, reaparecendo em outro (não importa a distância), segundos depois. – ele pareceu distante em pensamentos uns segundos e fez uma careta. Ri e ele balançou a cabeça, voltando ao normal. – Bom, então vou indo mesmo. Se mudar de idéia, sabe onde estamos... – me deu um abraço forte e um beijo estalado na bochecha. – Se precisar de qualquer coisa, entre em contato, ok?
- Não se preocupe. Já sou maior de idade nos dois “mundos” e sei me virar. Aproveite os dias de folga para descansar e matar mais um pouco do tempo perdido com mamãe. Mande beijos pra ela.

Ele me soltou sorrindo e concordando com a cabeça, indo até a porta. Antes de sair, se virou novamente para me olhar, sorrindo maroto.

- Juízo hein? Diga ao Henrique que estou de olho nele...
- Devo dizer a mesma coisa para você e mamãe? – respondi e rimos. – Vai, pai!
- Te amo, filha.
- Eu também te amo. – Com um último sorriso, ele saiu.

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- Então... O que vamos fazer no Ano Novo? Times Square? – perguntei me sentando ao lado de Henrique no sofá, apoiando minha cabeça em seu ombro e dobrando as pernas para apoiar uma bacia cheia de pipocas no vão entre elas.
- Não. Esse não vai ser um Réveillon comum. Vamos fazer nosso primeiro aniversário de namoro e... dizem por aí, que o ano vai acabar. – ele disse com um tom misturando o sombrio/misterioso e o irônico.
- Quem disse? – perguntei rindo e enfiando uma mão cheia de pipocas na boca.
- Os “trouxas” (no real sentido da palavra) lá da NASA que leram previsões da astronomia charlatã. Eles estão realmente estendendo essa bandeira, sabia? Afirmam por A + B que assim que se der a virada de ano para o segundo milênio... BUM. A terra vai acabar. Eu, bom pesquisador da real astronomia, e namorado de uma bruxa excepcional nessa matéria, não acreditei em nada disso, óbvio. Mas por via das dúvidas, se o mundo for mesmo acabar, vamos estar juntos comemorando nosso aniversário de uma maneira mais...íntima. E não pulando na Times Square. Estou te preparando uma surpresa.
- Ah não, odeio quando você faz isso! – disse brava engolindo muito depressa o resto de pipocas na boca e engasgando. Ele deu palmadinhas nas minhas costas, rindo. Quando melhorei, o encarei censurando. – Você é cheio disso de começar um assunto e parar, só pra me deixar morrendo de curiosidade. Porque tinha que dizer que “está me preparando uma surpresa” se eu sei que não adianta quanto esforço eu aplique em argumentos: você não vai contar nada.
- E você já sabendo antecipadamente que não vou contar nada, ainda assim fica brava? Esquece que disse isso e espere até o Ano Novo. Não gaste energias tentando me convencer. Simples.

Fechei a cara e enfiei uma nova mão cheia de pipocas na boca. Ele riu.

- Você fica irresistível quando finge estar brava, sabia? – ele me puxou para mais perto, dando um beijo em meu pescoço. Tentei me afastar ainda fingindo seriedade, mas amoleci rapidamente, sorrindo.
- É o meu melhor truque de sedução. – disse pousando a bacia na mesa e o puxando para um beijo longo. Logo o empurrava para o sofá, fazendo-o deitar e deitando em cima dele. Quando nos afastamos por uns segundos, ele sorriu passando a mão em meus cabelos. Insisti. – Não dá nem pra adiantar para onde vamos?
- Não, Isa! Pare de ser tão curiosa. Já disse: é uma surpresa. E, além do mais... – ele segurou os meus braços, nos girando e invertendo de posição. Seu rosto estava acima do meu alguns centímetros agora, e ele prendia meu quadril com seus joelhos – não vamos a nenhum lugar tão distante. – Abaixou-se e terminou de falar bem perto do meu ouvido: - Estou gostando deste sofá. – sorri o beijando ao mesmo tempo em que tirava sua camiseta.

[To be continued...]


quinta-feira, 6 de novembro de 2008


Previously on “Anabel McCallister”:

- Qual é o problema?
- Problema?
- De nós dois. Já estamos juntos há mais de um ano, Bel. Nós nunca... você sabe! Qual o problema? É comigo?
- Não há problema nenhum. Eu só não sei se estou pronta, ainda.
- Vou esperar o tempo que você achar necessário, então.

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- Eu não sei como você vai fazer. Isso não é problema meu. Mas quero meu nome e o de Bernard fora daquela lista de concorrentes para o concurso de “Rei e Rainha do Baile” até amanhã!
- Bernard achou uma boa idéia...
- Você falou com Bernard sobre isso?
- Claro que sim. Ele também não gostou inicialmente da idéia, mas... depois que eu disse que o prêmio era uma viagem para a Itália, uma semana, só vocês dois...
- Você falou com Bernard sobre isso??? Ele CONCORDOU?
- Sim! Bel, você e Bernard estão precisando de um tempo, sozinhos...
- Do que eu e Bernard estamos precisando, não é da sua conta. Se ele gostou da idéia, que participe SOZINHO. Não vou e essa é minha palavra final. Cuide para tirar meu nome daquela lista, imediatamente!

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- Não vai embora!
- Me dá um motivo pra ficar aqui e continuarmos essa discussão.
- Eu te amo, seu idiota! Não deu pra perceber isso?

[...]

- Sobre o concurso...
- Esquece isso. Não participamos e pronto.
- Não, para falar a verdade... Não me parece tão má idéia assim.
- Eu estou entendendo direito? Nós vamos participar?
- Se você ainda aceitar...
- Eu posso fazer um esforço!

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- Os vencedores e Rei e Rainha do Baile de Formatura da turma de 1999 são: ANABEL MCCALLISTER E BERNARD LESTEL!

ººº

Agosto de 1999

- Então, tudo pronto? – Mamãe apareceu na porta do quarto quando eu acabava de fechar o zíper da mala. Viajaria com Bernard para a Itália, em algumas horas.
- Tudo. Isabel trouxe todos os documentos de reservas que estavam faltando e claro, mais dois ou três pares de sapatos, cinco jaquetas, algumas calças, saias e blusas... Ela não perderia a oportunidade de me tentar a levar algumas roupas um pouco mais modernas. – rimos. Mamãe se sentou na minha cama, e eu também.
- Tem algo que quero te contar. Ia deixar para quando você voltasse de viagem, mas acho que é melhor agora... – ela desmanchou o sorriso e ficou séria.
- Fala. Você está me deixando preocupada! – pressionei.
- Não tem de se preocupar. É só que...
- Que?
- Eu e seu pai estamos namorando! Pronto, falei.

Ficamos em silêncio alguns segundos, nos encarando, até que comecei a rir sem parar. Ela pareceu se assustar com minha reação e sorria nervosa. Quando consegui parar, seus olhos formavam um ponto de interrogação.

- Todo esse suspense e esse medo pra me contar...isso? – perguntei ainda rindo e ela pareceu se irritar.
- Anabel! Pensei que você fosse ficar brava!
- Porque ficaria? Vocês se gostam ainda, isso é nítido. Tem mais é que ficar juntos mesmo.

Ela me encarava um pouco nervosa ainda, mas depois riu.

- Está tão nítido assim?
- Sim. Como 2 e 2 são 4. No dia da formatura eu soube que era só uma questão de tempo, até se acertarem novamente.
- Estamos parecendo dois adolescentes, não é? – ela perguntou sorrindo e concordei. – Depois de tanto tempo separados, tantas coisas aconteceram. Mas quando nos vimos novamente, parece que tudo parecia tão certo!
- Agora não tem um Grimoire jogando maldições em ninguém mais. Você e papai foram separados por pressão. Merecem ser felizes. E se estão, juntos, então eu estou feliz por vocês.
- Richard disse que Isabel teve a mesma reação que você, quando a contou. Às vezes até acho que vocês já estavam combinadas... – deixou a voz ir morrendo propositalmente, esperando uma confissão. Sacudi os ombros.
- Não fizemos nada. Só proporcionamos um reencontro de vocês na nossa formatura, o que aconteceria, ocasionalmente.
- É. Nós mordemos a isca então. – ela sorriu e seus olhos brilharam. Pareceu distante em pensamentos alguns segundos, mas logo “voltou” e me olhou – Obrigada. Por me dar apoio e não me julgar. Até parece que você é a mãe aqui... Mas você sabe que pode conversar comigo sobre qualquer coisa também, não é?

Concordei com a cabeça e nos abraçamos. De fato, um assunto não saía da cabeça nos últimos dias e não conhecia ninguém melhor do que ela, para conversar sobre isso.

- Na verdade, mãe, eu também quero te contar algo. – nos separamos e fiquei séria, sentindo meu rosto arder. - Sobre mim e Bernard.
- Ah... Entendo. – ela respondeu esperando que eu falasse.
- Nós estamos juntos há bastante tempo, mais de dois anos, e nunca... – a frase morreu e eu não conseguiria completar. Estava constrangida demais para isso. – Nunca...
- Nunca o que? Transaram? É isso? – ela completou por mim e me senti grata, apenas concordando com a cabeça. Ela sorriu. – E você está com medo?
- É... – recomecei me sentindo um pouco mais à vontade. - Eu o amo, de verdade, e tenho certeza de que é com ele que quero ficar. Ele disse que vai esperar quanto tempo for necessário, até que me sinta pronta. A verdade é que eu JÁ me sinto pronta, mas tenho medo de várias coisas. De não saber o que fazer, é o maior deles. Quero dizer, em toda a minha vida, eu sempre soube o que fazer! Entende? E se sair tudo errado? E se Bernard desistir de mim?

Ela escutou tudo o que eu dizia atentamente, e quando terminei, ela sorriu gentilmente.

- Estou me lembrando de quando eu estava na mesma situação que você. Mas claro, não conversei sobre isso com minha mãe e sim com sua tia Sophia. Vou tentar ser tão boa conselheira para você como ela foi para mim. Primeiro: se você o ama e já tem essa certeza de que é com ele que você quer dar esse passo, então vocês dois já têm vários pontos positivos para si próprios. E bom saber que ainda existem garotos como Bernard, pacientes. Essa atitude dele já põe abaixo o medo que você tem de ele desistir de você. Ele também te ama, é fato. Segundo: para tudo tem uma “primeira vez”. Você sempre soube o que fazer porque eu te eduquei assim. Mas você não nasceu sabendo tudo. No seu primeiro dia de aula, por exemplo, você não sabia o que fazer também. Tive que ir te buscar na escola, pouco tempo depois de ter te deixado lá, porque você não parava de chorar... E quem te garante que Bernard também saiba o que fazer? Mesmo que ele já tenha tido experiências anteriores, cada caso é um caso. Acredite em mim: vocês dois vão aprender juntos o que fazer e como fazer, quando for a hora certa. Não tem como eu te passar um roteiro de como agir e não tem como dar errado.

Ficamos em silêncio por vários minutos. Ela me puxou para um novo abraço, dessa vez, mais forte que o anterior, e passou a mão pelos meus cabelos.

- Estar insegura é normal, minha filha, mas você vai ver que tudo vai sair bem. Vocês se amam. Essa equação já possui resultados definidos, ainda que os cálculos dela estejam um pouco confusos, por enquanto...

Concordei com a cabeça, respirando fundo e tentando não ficar ansiosa. Ouvimos um estalo alto no andar de baixo e nos separamos. Levantei de um salto.

- É Bernard! Deve ter chegado por flú.
- Bel?! – a voz de Bernard foi ouvida e sorrimos. Respondi pedindo que ele subisse e poucos segundos depois ele apareceu na porta do quarto.
- Como vai Bernard? – mamãe perguntou pomposa estendendo-lhe a mão, que ele apertou sem graça.
- Bem. E você, Rebecca?
- Também. – ele me olhou um pouco tímido e mamãe sorriu me dando uma piscadinha. – Bom, vou deixá-los à sós. Apressem-se. A Itália espera por vocês!

Saiu do quarto e assim que fechou a porta, pulei no pescoço de Bernard pegando-o de surpresa. Ele sorriu e nos beijamos.

- Bela recepção. – respondeu quando nos separamos alguns segundos. Sorri. – Esse beijo estava com um gosto diferente, ou é impressão minha?
- Gosto de ansiedade para conhecer todos os museus da Itália. Vamos?! – perguntei estendendo-lhe a mão, e ele pegou concordando com a cabeça, também animado.

Em poucas horas, desaparatamos no local onde Isabel havia marcado, na cidade de Veneza. Tudo ali parecia lindo e romântico, mas nada parecia tão “exato” para mim do que eu e Bernard, juntos.

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Os dois primeiros dias da viagem haviam sido gastos em Veneza, que com certeza só perdia para Paris no quesito de “cidade mais romântica do mundo”. A cidade é bem pequena e “familiar”, com vários canais cortados por pontes em arco e gôndolas deslizando em silêncio pelas águas. Eu e Bernard já havíamos percorrido praticamente toda ela a pé e conhecido todos os melhores museus, lojas, restaurantes, igrejas e palácios. No dia seguinte, iríamos para Roma.

Havíamos acabado de jantar no Florian (à luz de velas e com direito a orquestra composta por violino, acordeão e contrabaixo) e voltamos para o hotel, caminhando de mãos dadas pelas ruas, sem pressa. A semana mal tinha começado e já ameaçava acabar, obrigando-nos a voltar para nossas realidades bem mais “cruas”. Bernard foi até a recepção pegar as chaves de nossos quartos e quando chegamos à porta do meu, ele me deu um beijo rápido e já foi se virando para entrar em seu próprio quarto, ao lado.

- Bê! – chamei depressa e ele parou no meio do caminho, virando-se. Queria falar para ele que não precisava ir para seu quarto, mas não saiu nada e ficamos nos encarando em silêncio. Ele já ia me perguntar o que tinha acontecido, mas me precipitei o alcançando e dando-lhe um beijo longo.
- O que foi isso? – ele perguntou meio assustado, meio rindo e sacudi os ombros.
- Eu estou pronta. – foi a única coisa que consegui dizer e ele não entendeu de imediato. – Você não precisa ir para o seu quarto. – completei a frase e ele arregalou os olhos de surpresa, esperando que eu confirmasse se ele tinha escutado direito. Sacudi a cabeça afirmativamente, sorrindo, e não precisei dizer mais nada. Ele me abraçou com força, me levantando alguns centímetros do chão e me beijando. Foi me carregando desse jeito até meu quarto, fechando a porta com o pé assim que passamos.

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Enquanto isso, em um pub qualquer de Paris...

- A essa hora o nosso casal “majestoso” predileto deve estar arrumando as malas. Amanhã eles saem de Veneza e vão para Roma. – Isabel consultou um roteiro que tinha feito para eles, pensativa. – Será que estão aproveitando a viagem? Com certeza vão querer conhecer todos os museus... – ela riu imaginando os dois saltando de um museu a outro.
- A pergunta é: será que estão aproveitando a viagem como ela de fato deve ser aproveitada? – Samuel levantou a questão e todos riram.
- Será que Bel cedeu? Será que fez Bernard feliz? Será que finalmente vou ter paz??? Eis as questões. – Ian continuou, arrancando ainda mais risadas.
- Só digo uma coisa: se não for dessa vez, só depois do casamento. – Dominique completou. As gargalhadas na mesa estavam muito altas, mas não o suficiente para sufocarem os ecos que os sinos da Catedral de Notre Dame fizeram, ao começarem a badalar. Todos se silenciaram por breves segundos.
- É um sinal!!! Deu certo! – Isa disse animada cortando o silêncio e as risadas recomeçaram. Ian levantou sua própria taça ao centro da mesa.
- Um brinde! Eles merecem! – brindaram e ele abriu um sorriso malicioso. – E se eu ligasse para o hotel agora e pedisse para falar com eles?
- Você não faria isso! Esqueceu que a sanidade do Bernard e a nossa está em jogo? – Dominique perguntou depressa.
- Mesmo que fizesse, acho que não conseguiria nenhum resultado... Bernard deve ter arrancado todos os aparelhos eletrônicos das tomadas, só pra não correr o risco. Até o frigobar. Quer dizer, o frigobar não. Vão precisar do conteúdo dele para sobreviver, porque sou capaz de imaginar os dois trancados no quarto por pelo menos dois dias seguidos...
- Vocês são tão maldosos! – Anne comentou, mas também sem conseguir conter as risadas.

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- Nossa! – exclamei sorrindo e apoiando minha cabeça no ombro de Bernard, deitado ao meu lado. Rimos.
- Nossa... – ele respondeu.
- Acho que vamos ter que sair para jantar, de novo. Estou faminta.
- Também estou. Mas tenho uma idéia melhor... Ao invés de sairmos, porque não pedimos alguma coisa na recepção e ficamos aqui? Aliás, temos mesmo que ir para Roma amanhã? Podemos ficar aqui o resto de nossas vidas. Nesse quarto, nessa cama... O que acha?
- O jantar eu concordo. Quanto à Roma e “o resto de nossas vidas”, vou ter que te desapontar. Quero conhecer mais um pouco da Itália, sabia? – rimos.
- A Itália não vai fugir. Eu te trago aqui mês que vem. Passamos nossa lua de mel aqui. Nos mudamos para cá, se for o caso. Você vai se enjoar de Itália, prometo.
- Hum, propostas tentadoras mas... Não. Durante os dias conhecemos a Itália, como meros turistas, e durante as noites eu te recompenso. Feito?
- Feito. – nos beijamos pra selar o acordo. – Vou pedir nossa comida.

Ele foi até o telefone e me acomodei nos travesseiros, encarando o teto do hotel, sorrindo. Mais feliz do que nunca.

Fill my heart with song
Let me sing forever more
You are all I long for
All I worship and adore

In other words, please be true
In other words, I love you.

- Frank Sinatra.

N.A.: Primeiro texto da Bel neste blog, que inclusive, já tinha sido idealizado há alguns meses atrás e conta com algumas idéias da Ju.

Lembrando que este blog é de conteúdo PG-18, com textos pouco violento mas com várias insinuações e muitas AFIRMAÇÕES, portanto, não me responsabilizo por traumas e quaisquer outras reações atípicas ao lerem esta página (que é um blog de fanfic inspirado no mundo criado por J.K. Rowling, não possuindo fins lucrativos). Se você é menor de idade e/ou facilmente influenciado, saia imediatamente desta página e vá ler... Gibi!
(Novamente, falando como se alguém, além dos “de sempre” fossem ler esse blog, huahuahuahua! Mas não custa nada garantir, claro.)

Desabafo da Autora: Finalmente esse texto saiu! Pâtz! Agora Ian pode respirar aliviado, *risim*.


sábado, 11 de outubro de 2008

Staring: The Brain & The Pink

Nome – Anabel Damulakis McCallister
Apelido – O comum é “Bel”, mas Bernard me chama de “Be” às vezes, só para combinarmos nossos apelidos. ;)
Aniversário – 16 de janeiro.
Signo – Capricórnio.
Idade – 18 anos.
Profissão – Ingressante da Academia de Aurores, em Paris.
Varinha – Cerejeira, 22 centímetros, pêlo de unicórnio. Leve e flexível. Boa para transfiguração e azarações.

Objeto especial – Uma corrente de prata com um coração que tem uma foto da minha mãe e uma do Bê. Era da minha bisavó, e uma das poucas heranças boas que ela nos deixou...
Animal de estimação – Duas corujas, Atena e Ástrea; uma gata, Afrodite; e um hamster, Ptolomeu.
Quem admira – Minha mãe, por ser uma mulher cheia de caráter e bons princípios, e não ter seguido a tradição da nossa família. Meu pai, por agüentar a Isabel tantos anos e por tentar colocar algum juízo naquela cabecinha. Isabel, por não ter obedecido e não ter juízo, e ser tão espontânea, divertida, companheira e maluca. E o Bernard. Quer dizer, a paciência do Bernard, principalmente.
Palavras-chave da história, até o momento: Grécia; Mãe; Grimoire; Bernard; Livros; Ulisses Bonaccorso; Academia de Aurores;


Nome – Isabel Damulakis McCallister
Apelido – “Isa”, “Izzie”, “Miss Popularidade”, “Penélope Charmosa”, “Pantera Cor de Rosa”, “Furacão Isabel”, o que preferir. Futuramente, assinarei minha marca como “Isa McCallister”.
Aniversário – 16 de janeiro.
Signo – Capricórnio.
Idade – 18 anos.
Profissão – Modelo e estudante de design de moda, em Nova York. Bicos de estilista em Beauxbatons, onde estou com projetos para a renovação dos uniformes.
Varinha – Cedro, 30 centímetros, cabelo de veela.

Objeto especial – Meu telescópio. Minhas coleções de chapéus e espelhos. E “O Livro da Sorte”, que ganhei do Henrique alguns dias antes de começarmos a namorar.
Animal de estimação – Uma coruja, Morgana; e um esquilo, Bartolomeu.

Quem admira – Meu pai, Richard, o trouxa mais fantástico que existe, e meu maior talismã. Minha mãe, Rebecca, por ser uma bruxa não menos fantástica e muito íntegra. Ok, Anabel, pois apesar de fazer aquela pose de durona, é muito sensível e determinada. Meus amigos todos, que sempre me dão apoio. Henrique, o melhor namorado/futuro marido do mundo! E claro, todos os “tops” da moda: Miuccia Prada, Giorgio Armani, Domenico Dolce & Stefano Gabbana, Giane Versace, e por aí vai.
Palavras-chave da história, até o momento: Nova York; Pai; Quadribol; Rádio; Grimoire; Henrique; Moda e Compras; Design de Moda;


ºººººººººº


Declaro oficialmente inaugurado o blog dessas duas opostas meninas (que agora já estão se tornando mulheres... *olhos cheios de lágrima, com orgulho*), Bel e Isa. Como não sabia o que colocar, para ficar como "o primeiro texto do blog" - que sempre tem um certo peso para o mesmo - resolvi fazer uma breve apresentação de cada uma. Óbvio que depois elas vão ter um perfil digno. Por enquanto, isso é só para não começar postando com o blog "crú".


Aos que estão pegando essas duas histórias a partir de agora, poderão encontrá-las integralmente (aliás, quase integralmente) no seguinte link: Les Fables de Beauxbatons. Eu digo "quase", pois antes de irem para Beauxbatons, elas passaram por Hogwarts, em um outro blog, com outro link, que já nem existe mais. Mas foram poucos meses, então, não faz diferença. Em Beauxbatons, procurem nos arquivos desde "Setembro de 2005" até "Julho de 2008". MAS, para quem ficou com preguiça, já aviso desde já que o que for relevante comentar e explicar dos tempos de escola delas, será devidamente comentado e explicado nos próximos textos. Anyway, quem ainda se sentir perdido e quiser um breve resumo, contato: amandalvafer@gmail.com.


Acho que já me estendi demais, então vou ficando por aqui. Só queria mesmo me apresentar e explicar esse novo espaço, além de apresentar nossas protagonistas, claro!


Espero vê-los em breve,

Amanda A. Fernandes, ou para os mais "íntimos" (provavelmente os únicos que estão lendo isso *risim*), Tandi.